"Excelentíssimo Sr Secretário
de Segurança Pública e Defesa Social, Delegado da Policia Federal
André Santos Costa, do qual saúdo todas as autoridades civis,
ilustríssimo Sr Comandante Geral do Corpo de Bombeiros Militar do
Estado do Ceará, Cel Heraldo Maia Pacheco, do qual saúdo todas as
autoridades do Corpo de Bombeiros e outras forças presentes,
Ilustríssimo Sr Comandante Diretor do Colégio Militar do Corpo de
Bombeiros Escritora Rachel de Queiroz, Cel José Nildson de Oliveira,
do qual saúdo todos os senhores professores, famílias, convidados e
colegas formandos, boa noite!
Fui apresentada como Brenda
Evellyn, mas agora já não falo mais apenas por mim. Falo por
nós. Nós, formandos do Colégio Militar do Corpo de Bombeiros
Escritora Raquel de Queiroz, turma de 2017. Nós, que nem em nossas
experiências mais rápidas imaginaríamos que parcela das nossas
vidas passaria tão depressa, e eis que estamos aqui: Estamos nos
formando. Estamos aposentando nossas boinas que há anos nos foram
entregues sob este mesmo teto, ouvindo o retumbar de nossas vozes
infantis ressoando um dos nossos primeiros juramentos que agora,
nesta noite, dá-se por cumprido. É o fim de um ciclo que aprendemos
a amar.
Por vezes, tentamos não gostar
disso tudo, é verdade. Sentimos muito por isso, mas é verdade.
Tentar sentir aversão pela rotina, pelas atividades incontáveis,
pelos testes que só estariam começando, pelas notas, pela
responsabilidade se formando e pesando cada vez mais. Que Deus e a
Pátria nos perdoe, mas tentamos por vezes não gostar até dos hinos
que nos eram impostos todas as manhãs, os comandos militares, a
pressão constante e exaustiva. E no fim, falhamos nas tentativas, em
todas elas. Talvez amanhã acordemos atordoados para não perder o
horário e se atrasar para a escola (o que, convenhamos, a maioria de
nós sempre falhou nisso também *risos*), até nos dar conta que
passou. Que acabou. O nosso ponto final, o “fora de forma!” de
desfecho e a nossa marcha em direção ao aurifulvo clarão
gigantesco que é a vida começa oficialmente hoje.
Lembramos muito bem como todo
esse ciclo começou, é claro. Muitos de nós estávamos juntos.
Apenas crianças cuja a única preocupação era... Bem, ser
criança... E não correr pela escola com o uniforme de trânsito:
caso contrário, esse seria nosso acesso ao clamado e temido — na
época — CAD. E a cada dia que se passava, ano e série que
avançamos, menos nos dávamos conta e esquecíamos de gravar
mentalmente cada detalhe que um dia nos faria falta. E já faz.
Naquela época não nos preocupávamos do que podia ficar no caminho
que já sabíamos qual seria o primeiro destino que é este que
estamos vivenciando nesta noite. Mais que canetas, folhas de papel e
uniformes que não nos cabia mais, deixamos também em cada parada um
aprendizado de um professor querido, um amigo que por condições
adversas pode não ter nos acompanhado e estancado no caminho ou
mudado sua rota. Tudo isso foram marcas e perdas que de acordo com os
dias fomos deixando por este mesmo caminho, como uma trilha para não
nos perdermos caso queiramos voltar para o início. O início de
tudo. E agora absorvemos e guardamos essas memórias como provações
do que um dia fomos e do que queríamos ser. Lembram-se? Quando nos
perguntavam o que queríamos ser, dizíamos que seríamos futuros
astronautas, malabaristas, cantores, cientistas... Uma profissão pra
cada dia da semana e agora estamos aqui. Mudamos nossas mentes e este
último ano foi recheado dessas mutações internas, todos
compartilhamos o mesmo sentimento de confusão e preocupação com o
temido futuro, o dia de amanhã sendo alimentado por doses de cafeína
matinal. Para a maioria de nós, o medo foi personificado por uma
sigla que passamos o ano inteiro para enfrentar e acreditar que nos
definiria. Agora ditamos que esse resultado não nos define, a maior
prova estamos diariamente enfrentando e ela nem se compara à uma
múltipla escolha, ela é dotada de questões abertas. A vida é,
realmente, o maior teste pelo qual iremos passar, e apesar de não
existir média, números ou respostas incompletas, os pontos de
participação é que definirão nosso resultado final.
Com isso, em todos os dias
vividos nesta nossa segunda casa, no nosso colegial, concluímos que
mudamos, e continuaremos mudando, erramos e continuaremos errando,
para que um dia, quando nos perguntarem o que queremos ser, nós não
precisemos adivinhar: NÓS SEREMOS.
Ao longo de toda nossa formação,
interação humana era inevitável, assim como os conflitos de
convívio também. E senhores, nossos conflitos sempre foram épicos.
Nossos pacificadores, nossos queridos monitores, nossos instrutores,
tiveram muita dor de cabeça. Porém, se não fosse assim, não teria
sido nós. Gratidão por tê-los juntos conosco em nossa história e
de terem nos auxiliado com tamanho zelo e paciência.
Bom, de fato, não existem
histórias se não houver ninguém para reproduzi-las. Encarregaremos
a reprodução à esses corredores pelos quais passamos todos os
dias, à essas paredes que já ouviram inúmeras narrações
inesperadas vindas de nós, ao eco desta quadra que ouviu nosso brado
bárbaro ressoando “selva” tantas e tantas vezes, aos quadros em
branco que já foram escritos para nós pelos escritores e
auxiliadores dessa mesma história, ao refeitório que era nosso
acolhedor entre turnos... Em toda essa estrutura que chamamos de lar.
O CMCB patenteou nossas histórias aqui vividas e longe de serem
esquecidas, nos uniu e ensinou que, no final, é a paz a nossa
sagrada missão.
Esse ciclo definitivo não seria
sustentado sem crença e orientação que foi e é crucial ao nosso
aprendizado durante todo esse caminho, e nada mais merecido e
contemplativo preenchê-lo com os menestréis de nossa formação,
nossos professores, pelos quais guardamos a gratidão por terem nos
segurado até o fim e nos preparado para o começo.
Quando o sinal toca é hora do
intervalo ou o horário de fim de aula. O sinal agora ecoa e não é
nenhum dos dois. É nosso desfecho, é a vida nos ordenando voar em
ligeiro. Chegou o nosso último capítulo que, acreditem, foi o mais
difícil de escrever e descrever. Anos só são possíveis de
descrever detalhadamente apenas com anos de descrição, mas para o
fim é necessário apenas um período. E esse período nós estamos
vivenciando neste momento.
Esse sinal que agora ecoa é a
nossa missão dupla, é o navio em que estivemos avisando que
chegamos ao porto e já é hora de atracar.
Após o fim, sejamos nossas
próprias âncoras no nosso ordinário marche sem nenhum passo para
darmos atrás na direção em que escolhermos.
Obrigada e até logo."
Brenda Evellyn da S. Borba
1 de dezembro de 2017
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